quarta-feira, 3 de outubro de 2007

ENSINAR SAIU DE MODA?

Baixa procura pelos cursos de licenciatura dificulta o número e a qualidade dos professores que voltam para o mercado, impondo um círculo vicioso à educação
Marta Avancini

FONTE:http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=12017

No contexto atual, em que o Brasil enfrenta escassez de professores para o ensino básico e em que começa a ganhar corpo uma mobilização nacional pela melhoria da qualidade da educação, as instituições de ensino superior se vêem diante de um grande desafio: como viabilizar os cursos de licenciatura. Este desafio se impõe, sobretudo, no âmbito da rede privada, a qual responde por uma parcela significativa das matrículas e dos formandos nesse tipo de graduação. De acordo com dados do Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) de 2005, essas instituições detêm 57% das matrículas e formam 60,1% dos docentes licenciados que chegam ao mercado de trabalho.

Um relatório divulgado em julho pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) ajuda a dimensionar a crise pela qual o país passa. O estudo alerta para o risco de um "apagão do ensino médio" caso não sejam tomadas medidas, em caráter emergencial e estrutural, no campo da formação de professores. Tal avaliação se baseia, dentre outras coisas, em uma estimativa feita pelo Inep de que faltam cerca de 235 mil docentes no Brasil, principalmente em física, química, matemática e biologia.

Esse quadro se soma ao processo de implantação do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) - lançado pelo Ministério da Educação em abril e que prevê que governo federal, Estados, municípios e escolas assumam o compromisso de tomar medidas em prol da melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem até 2022 - e que traz, necessariamente, o foco das atenções para a formação docente. Afinal, como alerta o documento do CNE, a dimensão do problema da falta de professores é tamanha que, se ele não for tratado adequadamente, "colocará em risco quaisquer planos que tenham a pretensão de pôr em prática estratégias que visem à melhoria da qualidade da educação no país".

No âmbito das licenciaturas, essas questões se colocam frente a uma série de problemas que persistem há vários anos. A lista é longa e envolve vários aspectos que se inter-relacionam. O primeiro deles é a sustentabilidade, um desafio com que os gestores se defrontam cotidianamente. "Esses cursos vivem no fio d'água da sustentabilidade. E esta não é uma característica só nossa, é uma regra geral", afirma Fernando Padovani, pró-reitor acadêmico da Univercidade, localizada no Rio de Janeiro. A instituição conta com cerca de três mil estudantes matriculados em seis tipos de licenciaturas, o que corresponde a 10% do alunado da instituição. Esta proporção é considerada significativa, mas, apesar disso, diz Padovani, o montante arrecadado com as mensalidades mal cobre os custos de manutenção dentro dos padrões de qualidade estabelecidos pela universidade.Esse quadro pode ser generalizado.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras das Faculdades Isoladas e Integradas (Abrafi), Janguiê Diniz, o valor médio das mensalidades das licenciaturas é em torno de R$ 250. "É muito barato. Não é suficiente para cobrir os custos. As instituições estão desanimadas", acredita.O baixo valor das mensalidades está relacionado às características do público que procura as licenciaturas, o qual, via de regra, tem baixo poder aquisitivo. Para o diretor da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes), Antonio Carbonari Netto, o perfil socioeconômico é um problema central. "Os alunos que procuram as licenciaturas são, em geral, aqueles de baixa renda. Há aqueles que também sonham em ser professores, é lógico, mas são poucos, pois esses vão indubitavelmente para o ensino superior, após realizarem uma pós-graduação. Aí, o mercado é bem melhor."

Ou seja, as instituições consideram que, de um lado, o perfil sócio-econômico do público impõe limitações no que diz respeito ao valor das mensalidades. De outro, avaliam que as perspectivas profissionais no campo do magistério afastam os possíveis candidatos às vagas de licenciatura. "A procura é muito pequena. Poucas são as pessoas que se interessam em pagar um curso superior que não tenha perspectiva de um bom emprego no futuro", analisa Carbonari. "O magistério na educação básica não atrai mais.

São baixos salários, péssimas condições de estrutura para o ensino e para a aprendizagem", conclui.Uma comparação entre o salário médio do docente brasileiro e o valor da bolsa de pós-graduação coloca a análise do diretor da Abmes em perspectiva: o Inep calculou, em 2005, que um professor de educação básica da rede estadual ganhava, em média, R$ 994. No Nordeste, este valor caía para R$ 822,92, menos do que uma bolsa de mestrado, R$ 955. Assim sendo, não é surpreendente que alunos formados em licenciatura optem pela carreira acadêmica.Além disso, o Brasil é um dos países que menos pagam os professores. Um estudo realizado pela Or­ganização das Nações Unidas pa­ra a Educação, a Ciên­cia e a Cultura (Unesco) em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que, num grupo de 38 países investigados, a remuneração dos docentes brasileiros é a terceira pior. Enquanto na Alemanha, o país mais bem classificado, um professor em início de carreira ganha US$ 35,5 mil ao ano, no Brasil, a expectativa de remuneração de um iniciante situa-se na faixa de US$ 12,5 mil.Nessa medida, assinala a presidente da Associação Nacional pela Formação de Profissionais da Educação (Anfope), Helena Freitas, não é possível pensar a formação inicial de professores de maneira dissociada das ações e políticas de valorização do docente. Isso passa por salário, mas não se restringe a esta dimensão: inclui, por exemplo, a definição de um plano de carreira e a melhoria das condições de trabalho, de modo que o professor possa, por exemplo, concentrar a sua jornada em um único estabelecimento de ensino e tenha tempo para estudar.


Os dirigentes das instituições de ensino, de sua parte, consideram a remuneração do docente um elemento central. O presidente da Abrafi aponta os baixos salários como o principal problema. Ele considera que está ocorrendo uma "superdesvalorização" do professor. Carbonari Netto, da Abmes, segue a mesma linha de raciocínio e prevê um futuro negro, caso o atual quadro persista. "Sem salários profissionais condizentes, não haverá a profissão de professor." Na opinião de Janguiê Diniz, se o governo tomar medidas fortes em prol da valorização do magistério, o impacto sobre as licenciaturas será positivo. "Se houver uma valorização do professor, isso vai acabar despertando o interesse do jovem em se habilitar como docente."Contudo, a realidade atual é que a falta de prestígio envolvendo a visão que parece predominar junto à sociedade quanto à profissão de professor se traduz em pouco interesse pelos cursos de licenciatura, impondo um círculo vicioso às instituições de ensino: a baixa procura acaba levando à formação de turmas pequenas, com impacto sobre os custos. Além disso, ressaltam os gestores, a evasão tende a ser mais elevada do que nas demais graduações.

O relatório do CNE menciona um estudo que, apesar de ter sido realizado há dez anos, ainda traduz a realidade das licenciaturas, pois, desde então, não foi adotada nenhuma medida para reverter os problemas então enfrentados: a evasão atinge picos de 75%, como é o caso da licenciatura em química. A situação nas áreas de física e matemática também é crítica, com evasão de 65% e 56% dos alunos matriculados, respectivamente. Chama a atenção que a pesquisa tenha constatado as mais altas taxas de evasão justamente nas áreas em que há carência de professores atualmente.O combate à evasão abrange uma série de medidas a serem tomadas no nível do governo, e das definições de políticas públicas para a área de formação de professores e, também, o que diz respeito às instituições de ensino do segmento privado.

Uma medida necessária no plano das políticas é a ampliação dos estímulos aos jovens interessados em se tornar professores. Por exemplo, os candidatos ao Programa Universidade para Todos (ProUni) - voltado para a inclusão de jovens de baixa renda no ensino superior por meio da concessão de bolsas em instituições privadas - que se inscreverem em um curso de formação de professores não precisam apresentar comprovante de rendimento.A medida é louvável na opinião de Carbonari Netto, mas é necessário fazer mais. "É preciso ampliar a possibilidades de financiamento, mais bolsas do sistema oficial (ProUni, Fies, FGTS, troca com impostos, etc.)", propõe ele. Assim sendo, a proposta de criação de uma bolsa-docência para estudantes da área de formação de professores que vem sendo anunciada pelo governo pode ser uma medida que favoreça as licenciaturas, mas ainda falta clareza com relação à proposta, avaliam os dirigentes. Paralelamente, é necessário implantar uma política para o setor, defende o presidente da Abrafi. "Não existem incentivos por parte do governo para as instituições privadas. Ao contrário, elas só são alvo de fiscalização", afirma Janguiê Diniz.
O pró-reitor Padovani, por sua vez, argumenta que é preciso existir uma sinalização mais clara no âmbito da legislação sobre a obrigatoriedade do grau superior para o exercício da profissão de professor.

No que diz respeito à formação de docentes para as séries iniciais do ensino fundamental e para a educação infantil, por exemplo, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) dá margem a uma contradição. Enquanto o artigo 62 admite a formação de nível médio, o artigo 87, incluído nas disposições transitórias, estabelece que até o fim da Década da Educação (que se encerra este ano), todos os docentes devem ter nível superior. "Se a lei deixar clara a exigência de formação superior, haverá mais interesse pelas licenciaturas", prevê Padovani.
A proposta recentemente aprovada pelo Congresso Nacional de transformar a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) na instituição responsável pela formulação de diretrizes e ações na área de formação de professores pode representar uma mudança do cenário atual, mas ainda falta uma definição com relação ao rumo que será dado. "Parece que o governo está dando certa atenção à melhoria da qualidade e às licenciaturas. Hoje em dia, a política de incentivo às licenciaturas é muito geral. Há a proposta de uma bolsa de incentivo à docência, mas não há clareza ainda", analisa a coordenadora do Programa de Formação de Professores da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), Eliane dos Santos Pascoal.


Se no plano das políticas ainda há um caminho a percorrer, no nível da gestão existem medidas que podem ser adotadas para tornar as licenciaturas mais viáveis. O pró-reitor Fernando Padovani, da Univercidade, defende que é preciso reo­r­­ganizar os currículos das licenciaturas de modo a unificar algumas disciplinas comuns às diferentes áreas, otimizando recursos e ampliando as possibilidades de aprendizagem dos alunos. Contudo, no caso da instituição à qual ele pertence, a proposta esbarra numa questão estrutural: como a Univercidade funciona em sete unidades espalhadas pelo município do Rio de Janeiro, torna-se inviável concentrar a oferta de disciplinas em um único campus.


Este caminho da reorganização do currículo, contudo, parece dar resultados positivos, como indica a expe­riência da Unicid. A instituição pode ser considerada um exemplo na contramão da situação vivida por boa parte das instituições de ensino superior que oferecem cursos de licenciatura, na medida em que conseguiu manter o número de alunos na faixa dos dois mil e reduzir a evasão das licenciaturas em decorrência da renovação do currículo e da adoção de medidas e ações de suporte ao estudante e ao professor da instituição.


A coordenadora Eliane conta que, no ano de 2000, quando ocorreu a reorganização da legislação e das diretrizes de formação de professores no país, a instituição mudou o currículo das licenciaturas, estruturando-o por competências em vez de disciplinas, com base nas novas definições propostas pelo Ministério da Educação. Assim sendo, o currículo passou a ser organizado de modo que o aluno reúna competências relacionadas a três eixos de formação: competências comuns a todos os professores, competências relativas ao grau de escolaridade em que pretende atuar e competências referentes à área de conhecimento escolhida. "Nós queremos que os futuros professores sejam capazes de mobilizar conhecimentos e atitudes. Não queremos que eles se apóiem em conteúdos específicos das áreas", explica Eliane.


Paralelamente à renovação do currículo, a instituição conta com serviços de apoio ao estudante e ao docente. No caso do aluno, a atividade se baseia numa tutoria em que os responsáveis procuram identificar os motivos que levam à evasão e solucioná-los. O resultado da tutoria, no caso das licenciaturas, foi a redução da taxa de evasão de 20% para 7%, desde 2000.
Para os docentes, a instituição procura, dentre outras coisas, apoiar atividades de capacitação.
O apoio ao estudante, propõe Padovani, também abarca o desenvolvimento de atividades que possam criar condições para que ele melhore seu aproveitamento. "O aluno que está chegando traz carências da educação básica, do ensino médio. Muitas vezes, é o primeiro universitário da família e carrega as dívidas do sistema educacional brasileiro."


Ele defende que é preciso acolher esse estudante por meio, por exemplo, da implantação de um ciclo básico de formação em que essas dívidas possam ser resgatadas. Também é necessário, em um nível mais estrutural, fazer uma revisão do modelo exclusivista de ensino superior forjado nas décadas passadas. Tal responsabilidade, reitera, é particularmente relevante em relação àqueles que procuram os cursos de formação docente. "É preciso refazer o caminho que conduza esse jovem a uma boa formação. Ele vai ser um futuro professor e, se não houver uma mudança de rumo, o ciclo vai se perpetuar."

FILME: O SORRISO DE MONALISA

Comentários do Grupo: (Antonio de Souza, Jeremias, Orency e Camélia)

A história de um grupo de alunos tradicionalistas clássicos que aos poucos, ao longo do filme, vão mudando sues dogmas e assumindo o que realmente querem fazer e mudando suas formas de agir, especialmente a aluna Beth, impulsionados pelas aulas de arte da Professora Katherine, com características que mesclam entre as tendências libertárias e crítico social, mais para esta que para aquela, em um ambiente de famílias tradicionalistas em que a escola reafirma tal, linha de pensamento,levando conflito entre os ensinamentos da professora e os costumes locais.

Os momentos de ensino e de aprendizagem tem seus ápices nos momentos em que a professora sai do contexto das apostilas e adotadas pela escola, principalmente quando a professora leva para sala de aula de artes uma figura com parte do corpo de um animal, mostrando sua carne e ossos, levando os alunos a um choque cultural e também no instante em que a referida professora coloca os alunos a observarem um quadro totalmente desconhecido para que cada um tivesse sua própria idéia do que era ou o que representava.

A atitude da professora levou inovação e disposição às mudanças de metodologia e concepção de conteúdo programático, rompendo com a forma tradicional de ensino aprendizagem vinculando o conteúdo das aulas com a vida, adaptando ao que havia de novo no mundo e na sociedade da época.A professora vai além da sala de aula ensinando para a vida, provocando uma mudança no papel do aluno no contexto pedagógico, de forma que o aluno tenha mais importância na vida acadêmica, participando ativamente das aulas.

Desta forma, a professora, agindo com determinação, procurava mudar e em alguns chegou até a mudar o que aquela sociedade tinha por verdade absoluta, levando seus alunos a pensar de forma diferente.